UFOPA: Projeto Praias Boraris, em Alter do Chão, alia ciência e conhecimento tradicional
Objetivo
é fomentar o turismo sustentável envolvendo comunitários e
indígenas Borari
Promover
a conservação da vegetação das praias do lago Verde, na vila de
Alter do Chão, a 35 km da cidade de Santarém, a partir do
mapeamento participativo florístico e etnobotânico, é um dos
objetivos do projeto da Universidade Federal do Oeste do Pará
(Ufopa) “Praias Amazônicas Boraris: Juventude indígena pela
valorização da vegetação de praia do Lago Verde dos Muiraquitãs
de Alter do Chão no Pará”.
Coordenado
pelo professor Thiago de Carvalho André, do Instituto de Ciências e
Tecnologia das Águas (ICTA), com a participação de uma equipe
multidisciplinar de professores, o projeto prevê também aliar o
conhecimento científico e o tradicional. “Vamos trabalhar tentando
estabelecer um elo entre o conhecimento tradicional, a educação, o
conhecimento científico e a promoção social e, por isso, todos os
nossos bolsistas são universitários, que além de moradores da vila
são descendentes Borari”, afirma o coordenador do projeto.
“O
projeto de extensão Praias Amazônicas Boraris vai envolver docentes
da área de Botânica e Ecologia da Ufopa, além da comunidade
indígena Borari que reside na vila na execução do mapeamento,
identificação, levantamento florístico e etnobotânico das
espécies de plantas das praias do lago verde”, afirma o
coordenador.
A
grandeza do nome do projeto se confunde com o objetivo ousado, que,
além da taxonomia de plantas nativas ao redor do lago Verde, prevê
a publicação de um guia botânico para incentivar o turismo de
observação, na vila de Alter do Chão. Essa é uma modalidade ainda
pouco difundida no Brasil, mas muito apreciada em países como
Estados Unidos e Inglaterra.
Um
aspecto muito importante das ações contempla a promoção da
formação do jovem e de jovens lideranças para a sustentabilidade
socioambiental, com participação em fóruns deliberativos locais.
Dessa forma, as ações do projeto também incluem educação
ambiental com a capacitação de guias turísticos.
A
professora Amanda Mortati ficará responsável por esta parte do
trabalho. Ela explica como se dará a interação com a comunidade:
“A ideia é que com os produtos finais do projeto - em termos de
identificação de espécies e conscientização a respeito do
potencial dessa informação para o turismo - possamos oferecer, ao
turista que busca apreciar a beleza cênica e a cultura do local,
essas informações para que ele seja mais incentivado a buscar este
outro tipo de turismo na vila, ao invés de apenas explorar a praia.
Isso pode vir a preservar os recursos naturais e consequentemente a
cultura local em Alter do Chão”, afirma.
“Espera-se
que, com a valorização da vegetação das praias, agentes de
turismo, turistas e comunidade da vila promovam e fiscalizem a
conservação das praias. Atualmente, há uma grande pressão sobre a
vegetação da praia, com muitos loteamentos e empreendimentos
hoteleiros, especialmente, mas não somente, nas regiões de savana e
na APA de Alter do Chão, e a urbanização do centro da vila,
acarretando prejuízos ambientais ao ecossistema, que podem
potencialmente vir a reduzir justamente o maior atrativo turístico e
base econômica da comunidade”, prevê o texto do projeto.
Objetivo
do Projeto – O professor Leandro Lacerda (ICTA) ressalta os
dois principais objetivos do projeto. “Um deles é fomentar o
turismo sustentável por meio do trabalho dos próprios comunitários
Borari, o que envolve principalmente os catraieiros (condutores de
embarcações a remo). O outro objetivo é preservar a vegetação
das praias, mantendo-a em pé, e para isso nós precisamos dar valor
a essa vegetação. Na verdade esse valor já existe, a comunidade já
utiliza essa vegetação. O que a gente vai fazer é mostrar, para
quem está de fora, que valor é esse, além da sua importância
biológica”.
O
professor informa ainda que para alcançar esse objetivo serão
executadas pelo menos quatro fases do projeto. Atualmente está sendo
executado o inventário das plantas por meio de coletas com os alunos
da Ufopa e também por integrantes da comunidade. Em seguida
passaremos à fase de identificação botânica. A partir daí, esses
dados levantados serão levados para a comunidade e comparados com o
conhecimento que eles têm. As ações serão desenvolvidas de forma
conjunta com a comunidade, sempre respeitando o conhecimento deles e
o objetivo é entender como esse conhecimento científico se
relaciona com o conhecimento tradicional”.
O
produto final, ou seja, o guia botânico não vai conter apenas
informações de plantas e das praias. “A ideia é que o nosso
produto final traga tanto o nome científico das plantas como também
de que forma essas plantas são utilizadas pela comunidade. A
expectativa é que esse guia se torne um atrativo para os turistas,
mas além disso alerte para que eles (os turistas) enxerguem a
importância dessas plantas estarem ali, que é manter a praia
saudável e também serem utilizadas pelos moradores que vivem
naquelas comunidades. Com isso, esperamos fomentar esse ciclo de
turismo de forma sustentável”, conclui Leandro.
Sobre
Alter do Chão - As praias de areia branca e água doce e
cristalina do rio Tapajós na vila de Alter do Chão já foram
eleitas as mais belas praias do Brasil. A vila é um distrito da
cidade de Santarém e os atuais habitantes são na sua maioria
descendentes de indígenas Borari.
Por
meio do Decreto Lei nº 17.771/2003 foi criada a Área de Proteção
Ambiental (APA) de Alter do Chão, que compreende uma área de 16.180
hectares, cujo objetivo é ordenar a ocupação das terras de modo a
promover a proteção da diversidade biológica, dos recursos
hídricos, do patrimônio natural, com vistas a assegurar o caráter
sustentável da ação antrópica na região. O Conselho Comunitário
da Vila elaborou, em 2012, um plano de uso que não foi efetivamente
colocado em prática. Neste plano de uso, a conservação da
vegetação e das culturas tradicionais locais é o mecanismo
explícito para a manutenção da qualidade de vida, dos serviços
ambientais e da vocação ecoturística da vila. “Infelizmente, as
áreas de preservação permanente dos igarapés que desembocam no
lago Verde e região, além das áreas de várzea das praias, têm
sido degradadas intensivamente pelo uso e ocupação desordenados e
irresponsáveis do espaço”, alerta o projeto.
“Espera-se
que a presente proposta sirva de elo entre o conhecimento
tradicional, a educação e o conhecimento científico, e incentive
claramente a valorização da manutenção da vegetação ciliar do
lago Verde, produzindo a força motriz necessária para que a
conservação do meio ambiente seja praticada efetivamente na vila de
Alter do Chão, em especial pela comunidade que ali reside”.
Lenne
Santos - Comunicação/Ufopa
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