Muito além do laboratório: famílias ribeirinhas de Oriximiná confirmam parâmetros testados em pesquisa sobre produção de pescado


Àgua aquecida, alimentação fracionada rica em vitaminas naturais, principalmente camu-camu e açaí, aliadas à tecnologia da construção de tanques de madeira adaptados para aproveitar o calor solar. Estes foram alguns dos principais parâmetros testados nos laboratórios da Universidade Federal do Oeste do Pará em Oriximiná, em testes para a criação de pescado em cativeiro, e que alcançaram bons resultados. 

A pesquisa intitulada “Efeitos da adição do fruto de Myrciaria dubia, o camu-camu, e Euterpe oleracea, o açaí, em dieta hiperproteica no crescimento do Colossoma macropomum submetido a exercício físico em ambiente aquecido” surgiu no âmbito do Programa de Ação Interdisciplinar (PAI), desenvolvido na unidade da Ufopa junto a estudantes de graduação e do ensino médio de Oriximiná, Oeste do Pará, e já foi apresentada na reportagem disponível nesta página: http://www.ufopa.edu.br/divulgacao_cientifica/calor-ajuda-no-desenvolvimento-do-tambaqui-de-cativeiro.

“A espécie Colossoma macropomum, o tambaqui – uma das mais apreciadas pela população amazônica e também de alto valor comercial – desenvolve-se mais e melhor em ambientes com as características descritas acima, que fogem aos padrões de criação do pescado em cativeiro, cujo modelo adotado aqui é trazido de outras regiões do país, em sua maioria de estados do Sul, onde características climáticas são diferentes das locais”, alertou um dos pesquisadores que integram o Grupo de Pesquisa em Fisiologia Ambiental (GPFA), ao qual a pesquisa está ligada, Miguel Canto, que também é doutorando do Programa de Pós-Graduação em Neurociências e Biologia Celular do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará (UFPA).

A novidade agora é que os mesmos resultados estão sendo obtidos, não mais em laboratórios, e sim em condições naturais. Seis famílias de ribeirinhos que vivem nas margens dos lagos Acapuzinho, Bacabal e Tarumã, no município de Oriximiná, estão conseguindo economia nos custos com a ração e menos tempo de produção da espécie. Há seis anos, Francisca Gomes da Silva, a simpática Vovó Chiquinha, que vive nas margens do lago Acapuzinho mantém com o marido, Antônio, uma criação de pescado. Depois de contabilizar alguns prejuízos, como a fuga de quase mil unidades com o rompimento do antigo tanque utilizado, agora está confiante com a nova criação. Mas ainda mantém dois tanques: um no qual a criação segue as normas tradicionais e outro com a técnica dos experimentos da universidade. “Essa experiência vem trazendo mais conhecimento e mais experiência para nós. Ver os peixes crescendo a olhos vistos é muito bom. Juntar a nossa experiência com a criação de peixes e os conhecimentos dos pesquisadores está sendo maravilhoso”. Esbanja confiança, mas sem deixar de lado a cautela: “Vamos esperar a despesca para conhecer os resultados, ver se os peixes do tanque da universidade crescem mais, mesmo”.

A primeira despesca está prevista para acontecer em outubro. Até lá os peixes estarão com cerca de 2 a 2,5 kg. Isso significa que cada tanque deve gerar entre R$ 15 mil a R$ 18 mil”. É o que afirma a analista de Relações Comunitárias da MRN, Genilda Cunha. Para ela, existe uma preocupação com a evolução dos projetos desenvolvidos pela MRN em benefício das comunidades. “O objetivo da parceria com a Ufopa é fazer do projeto de Piscicultura um modelo inovador, sustentável, rentável e facilmente assimilado. Essa parceria também permitiu que o projeto servisse à comunidade científica local como oportunidade de produção de conhecimento. E é muito gratificante constatar que o conhecimento produzido já está beneficiando as famílias que participam do projeto. Com as técnicas que estão sendo desenvolvidas pelos pesquisadores – e que envolvem uma nova forma de cuidar e alimentar os peixes – o retorno do investimento é mais rápido, ou seja, o peixe cresce em menos tempo”, conclui.

O professor Domingos Diniz, coordenador geral da pesquisa, confia nos resultados que estão sendo obtidos neste primeiro ciclo de observação dentro de condições naturais. “O peixe cresce dentro das expectativas. Pode-se ganhar na recria cerca de 3 a 4 meses em relação à média nacional, ou seja, o pescado chega na mesa de corte muito antes do que nas criações tradicionais. Além disso, registramos uma economia de 50% dos custos com a ração, que é oferecida de forma fracionada em um período de duas horas. Isso garante maior homogeneidade do grupo, ou seja, mais peixes se alimentam. A superfície de alimentação é muito maior, pelo menos dez metros de tanque para distribuir o alimento”.

Nelson Costa (Ufopa/Oriximiná) também faz parte da equipe de pesquisadores e comemora os resultados. “Com esse fracionamento, nós observamos que os peixes têm consumido o alimento de forma mais eficiente, diminuindo proporcionalmente os gastos com ração. Estamos efetuando os cálculos mais precisos, mas já temos observado uma redução de 15% a 20% nos gastos com ração, ou seja com uma menor quantidade de ração é possível produzir uma maior quantidade de peixe”.

Os pesquisadores também concordam com outro aspecto: o projeto Peixe Novo objetiva difundir o conceito de sustentabilidade junto a comunidades e junto aos alunos de graduação do Campus de Oriximiná e do ensino médio por meio do Projeto de Ação Interdisciplinar (PAI). “Nesse aspecto os resultados também têm sido positivos”, conclui o professor Domingos Diniz.

O projeto Peixe Novo é voltado para comunidades que já trabalham com a criação de peixe em cativeiro ou que possuem vocação para essa atividade. A análise é feita pela MRN e pela equipe técnica da Ufopa. A equipe do Departamento de Relações Comunitárias  visita comunidades de Oriximiná para identificar mais famílias com perfil adequado ao programa. Para essas famílias a empresa mineradora oferece material para a construção dos tanques, de acordo com a especificação estabelecida pelos pesquisadores da Ufopa. "

Fonte: Lenne Santos - Comunicação/Ufopa

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