PARÁ - Laboratório Central treina agentes para monitorar transmissores das leishmanioses
Agentes de endemias das secretarias municipais de Saúde estão sendo
treinados para monitorar insetos transmissores das leishmanioses
(flebotomíneos). A capacitação é prestada pela Divisão de Entomologia do
Laboratório Central do Estado do Pará (Lacen).
Conhecidos popularmente como mosquito palha, asa-dura, tatuquiras,
birigui, entre outros nomes, os insetos fazem parte da fauna amazônica,
portanto é fundamental que os municípios estejam preparados para agirem frente
a esse agravo.
O objetivo é capacitar os agentes a realizarem, pelo menos, três das
etapas que compõe o monitoramento, que são captura, triagem e acondicionamento
para envio das amostras para o Lacen/PA fazer a etapa final, que é a
identificação laboratorial para confirmação das espécies que estão circulando
nos municípios.
Os treinamentos são realizados conforme a demanda da Coordenação
Estadual de Leishmaniose e, com apoio dos Centros Regionais de Saúde, são
prestados nos municípios com maiores incidências de casos de Leishmaniose
Visceral (LV), que se apresenta na forma sistêmica, bem como da forma cutânea a
Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA).
Para a bióloga Paoola Vieira, que é coordenadora da Divisão de
Entomologia, assim é possível descentralizar esses serviços. "O município
precisa apenas de pessoas treinadas, armadilhas e de lupa entomológica",
observou.
Em 2018 foram treinados 73 agentes de 28 municípios e dois distritos
indígenas na abrangência do 10º, 11º e 12º Centros Regionais de Saúde, com sede
nos municípios de Altamira, Marabá e Conceição do Araguaia, respectivamente.
Neste ano, já foram treinados mais nove agentes dos municípios de Abaetetuba,
Barcarena, Igarapé-Miri e Tailândia, no 6º CRS. A maioria dos municípios
encaminha entre dois a três agentes para participarem do treinamento.
Doença – A Leishmaniose Visceral é uma zoonose de evolução crônica, com
acometimento sistêmico e, se não tratada, pode levar a óbito até 90% dos casos.
É transmitida ao homem pela picada de fêmeas do inseto vetor infectado,
denominado flebotomíneo. No Brasil, a principal espécie responsável pela
transmissão é a Lutzomyia longipalpis.
Os principais sintomas da doença são: febre de longa duração; aumento do
fígado e baço; perda de peso; fraqueza; redução da força muscular; anemia.
A transmissão acontece quando fêmeas picam cães ou outros animais
infectados, e depois picam o homem, transmitindo o protozoário Leishmania
chagasi, causador da Leishmaniose Visceral.
De acordo com a Coordenação Estadual de Leishmaniose, o Pará registrou
567 casos de leishmaniose visceral em 2018 e 28 casos nos dois primeiros meses
deste ano.
Metodologia – Com duração de cinco dias, o treinamento começa com aula teórica
abordando biologia, morfologia geral e comportamento dos flebotomíneos. Já a
parte prática abrange a captura dos insetos no campo com armadilhas específicas
e a observação por meio de microscópio para conhece-los de perto. "O
treinamento segue metodologia e carga horária específica do Ministério da
Saúde, que define quantos dias são de teoria e de campo", informou Paoola.
Uma das dificuldades apontadas por ela é a grande rotatividade de
profissionais nas secretarias municipais de Saúde, por isso, o Lacen/PA dá
prioridade em treinar efetivos, mas não deixa de treinar contratados, uma vez
que o número de profissionais é muito reduzido.
Além de realizar os treinamentos, o Lacen/PA doa aos municípios as
armadilhas que vêm do Ministério da Saúde e são equipamentos relativamente
caros para serem adquiridos diretamente pelas gestões municipais. Para isso, é
assinado um termo de compromisso pelo município.
"O serviço de monitoramento tem que ser feito constantemente e não
apenas quando há casos suspeitos da doença. Só assim, é possível fazer a
prevenção da leishmaniose", disse Paoola, lembrando, ainda, que
diferentemente do Aedes Aegypti, o flebotomíneo não põe seus ovos próximo da
água e sim em locais úmidos, sombreados e ricos em matéria orgânica (folhas,
frutos, fezes de animais e outros entulhos que favoreçam a umidade do solo),
por isso, é importante a limpeza de quintais e de abrigos de animais
domésticos, como chiqueiros e galinheiros, como medida preventiva da doença.
Experiência – O guarda de endemias Dídimo, que ministra o
treinamento junto com a agente de endemias Andréa Amaral, contou um pouco da
sua experiência como ministrante do treinamento. "Primeiramente, a gente
se reúne com os gestores e depois com a turma que será treinada, para
apresentar a metodologia. Para a parte prática, nós também levamos os
microscópios e improvisamos um laboratório para a observação dos insetos
capturados", disse.
Segundo Dídimo, "esse treinamento tem despertado bastante o
interesse dos agentes porque é um serviço diferente das ações que eles costumam
fazer, geralmente, mais relacionados ao controle do mosquito Aedes
Aegypti".
Paoola informou, ainda, que já está havendo feedback positivo dos
municípios que tiveram agentes treinados. Parauapebas, Marabá, São Domingos do
Araguaia e Piçarra por exemplo, já estão fazendo a captura e triagem
encaminhando amostras para o Lacen/PA identificar.
Avanço – O próximo passo da Divisão de Entomologia, segundo ela, é treinar
o pessoal dos Centros Regionais de Saúde para fazerem a identificação, que,
atualmente, só é feita pelo Lacen/PA porque exige um processo químico
trabalhoso. "Descentralizando essa parte do trabalho para as regionais,
nós ficaremos somente com o controle de qualidade", informou Paoola.
O primeiro treinamento já
está agendado para o período de 13 a 24 de maio e será ministrado por técnicos
da Fundação Oswaldo Cruz.
Texto: Roberta Vilanova
Secretaria de Estado de Saúde Publica - SESPA
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