Quilombolas protagonizam campanha de enfrentamento à Covid-19 em Oriximiná
Iniciativa é conduzida pelo grupo “Pela Vida no Trombetas”, que reúne instituições, Ministério Público, associações quilombolas, ribeirinhas, indígenas, Universidade Federal Fluminense e Mineração Rio do Norte
Uma campanha em que o comunitário é o protagonista e ele mesmo comunica em sua linguagem, com os elementos da sua cultura e com a confiança conquistada no seu território. Essa é a proposta da ação de prevenção e combate à Covid-19, que está sendo conduzida pelo Grupo de Trabalho Pela Vida no Trombetas, no município de Oriximiná. A iniciativa começou neste mês, com a divulgação de vídeos em diversas plataformas, como WhatsApp e redes sociais.
A estudante universitária Áurea Sena, 27 anos, moradora da comunidade quilombola do Boa Vista, Alto Trombetas, está à frente da campanha, entrevistando os pioneiros, lideranças e pessoas que fazem a história nos territórios quilombolas. “Como é muito grande o respeito pelos mais velhos, acreditamos que a comunidade vai escutar os conselhos de que tem que ficar em casa, usar máscara e só sair quando for necessário. Com essas gravações, queremos que o nosso povo fique preservado dessa doença e que nenhuma família seja atingida. Para mim é uma satisfação enorme estar à frente desse projeto, poder levar voz ao meu povo e lutar pelo seu bem-estar”, afirma.
O grupo “Pela Vida no Trombetas” foi criado em 26 de março, com o objetivo de elaborar material informativo de prevenção ao Covid-19, voltado aos povos e comunidades tradicionais do município de Oriximiná e região, além de verificar medidas preventivas para proteger as populações rurais, quilombolas e indígenas da região. O Grupo é composto por representantes do Ministério Público do Estado do Pará (MPPA), Ministério Público Federal (MPF), Universidade Federal Fluminense (UFF), Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Município de Oriximiná (ARQMO), Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Alto Trombetas II (ACRQAT), Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Boa Vista (ACRQBV), Associação dos Moradores da Comunidade Remanescente de Quilombo de Cachoeira Porteira (AMOCREQ-CPT), Associação das Comunidades da Gleba Trombetas e Gleba Sapucuá (ACOMTAGS), Associação Mãe Domingas, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Fundação Nacional do índio (Funai), Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), Mineração Rio do Norte (MRN) e Projeto Quilombo.
Para o professor Marcelino Conti, diretor da unidade da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Oriximiná, a iniciativa tem gerado um círculo restaurativo, onde as comunidades quilombolas, ribeirinhas e indígenas têm a oportunidade de serem ouvidas e de falar do que é importante para elas.
Segundo o educador, a união entre instituições, MRN e comunidades vem gerando diálogo e trazendo várias soluções que ajudam na preservação de milhares de vidas no Oeste do Pará. “E quando a comunicação é feita de um comunitário para um comunitário, barreiras são quebradas e a receptividade é outra. No primeiro vídeo da campanha, por exemplo, temos a participação da Tia Ormezinda, professora de mais de 35 anos no magistério, que alfabetizou quase todos da minha geração. A voz dela é reconhecida em qualquer lugar. A minha expectativa com esta campanha é que as pessoas façam aderência ao isolamento social, fiquem no quilombo, lugar seguro para proteger suas famílias, e que efetivamente possamos colocar em prática a nossa filosofia ‘ubuntu’, do saber viver coletivamente, com um cuidando do outro”, declara.
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