Redes sociais são alvo principal de ações na Justiça Eleitoral
As redes sociais são o maior alvo das ações na Justiça Eleitoral para
remoção de conteúdo, segundo levantamento feito pela Fundação Getulio
Vargas. O estudo, que considerou 484 processos abertos nas eleições de
2014, em todo o país, indicou que 56,9% das demandas visavam postagens
em espaços como Facebook, Twitter e Youtube. Segundo os dados
preliminares divulgados hoje (26), os blogs vêm em seguida como alvo
preferencial das ações (12%), depois as páginas da administração pública
direta (11,4%) e os portais de notícias (9,7%).
Em caráter
liminar, 66% das ações propostas foram deferidas, pelo menos
parcialmente. Nas sentenças, o índice de deferimento se reduz
ligeiramente e fica em 62%. Enquanto nos acórdãos, quando o caso é
apreciado por um grupo de magistrados, o índice de aceitação dos pedidos
de remoção de conteúdo é de 58%.
A maior
parte das ações foi iniciada por partidos ou coligações (46,7%) e, em
seguida, estão as demandas feitas diretamente por candidatos (30,3%) e
pela imprensa (22,8%). A maior parte dos réus nos processos eram os
próprios candidatos (43,6%), depois as pessoas físicas, com 17,7% e os
provedores que oferecem plataforma ao conteúdo (14,6%).
Os dados que compõem a pesquisa foram coletados a partir de todos os processos disponibilizados online pelos tribunais regionais eleitorais das 27 unidades da federação e pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Cerceamento
Segundo
a coordenadora do estudo, a professora Mônica Guise, alguns reclamantes
vão além do simples acionamento da Justiça e tentam complicar a vida
dos autores do conteúdo indesejado. “Verificamos que, em alguns estados,
existe uma estratégia processual de, ao invés de pedir tudo em uma
única ação, o que seria perfeitamente possível, o autor bombardeia o réu
com 20, 30 ou 40 ações e cada ação pedindo uma questão específica, em
que pese o conflito ser o mesmo. A gente entende que essa é uma
estratégia processual, porque de fato é um grande pepino para quem está
na outra ponta”, destacou.
Esse tipo de procedimento é, na
opinião da especialista, uma forma de impedir a publicação de opiniões
contrárias ao autor das ações. “Me preocupam cada vez mais as
estratégias e ferramentas que têm sido usadas de forma cada vez maior
para de fato censurar e não deixar publicar”, acrescentou.
Um dos
autores da página humorística Sensacionalista, Nelito Fernandes, contou
já ter sofrido esse tipo de ataque judicial, quando mantinha uma coluna
no jornal Extra, do Rio de Janeiro. Na ocasião, Fernandes disse ter
publicado uma charge em que sugeria a criação de um cartão especial para
pagar propina a policiais, satirizando fatos noticiados à época.
Como
reação, foi alvo de uma enxurrada de processos. “Dois mil e trezentos
policiais militares entraram com ações individuais. O jornal não perdeu
nenhuma, mas a defesa custou R$ 1 milhão. E eu tive de ir mais de 300
vezes a audiências. Então, isso já é um cerceamento. Eu nem preciso
dizer que, ao final disso, apesar da gente não ter perdido nenhuma ação,
eu perdi a coluna”, contou.
Atualmente, no Sensacionalista,
Fernandes disse não se furtar a fazer críticas a nenhum grupo ou pessoa,
mas manter a atenção voltada à repercussão nas redes. De acordo com
Martha Mendonça, outra autora da página, críticas de internautas podem
fazer com que o conteúdo seja repensado. “Uma coisa é fazer humor, outra
coisa é fazer humor nas redes sociais. É uma situação em que você tem
retorno absolutamente imediato. E a gente, às vezes percebe, pelo
retorno, que a gente mandou mal”, acrescentou.
A equipe, no
entanto, mantém uma linha editoral em que evita fazer piadas que possam
agredir grupos historicamente desprivilegiados ou com conteúdo ofensivo,
de racismo, machismo ou homofobia. “A gente gosta de falar mal do
opressor, não do oprimido”, disse Martha.
Fonte: Agência Brasil
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