Belém: Acervo museológico ajuda a contar história do Pará e da Amazônia
Mais do que um espaço para salvaguarda da história, os oito museus e dois memoriais instalados no Centro Histórico de Belém têm ajudado a ampliar o aprendizado de estudantes de diversas instituições de ensino do Pará, se consolidando como uma importante ferramenta pedagógica. E têm sido, ainda, um formidável incremento para o turismo na cidade. Diariamente, os mais variados grupos visitam os espaços. A cada parada, todos conhecem um pouco mais sobre a história do Pará e da Amazônia.
Gerenciados pelo Sistema Integrado de Museus e Memoriais (SIM), órgão ligado à Secretaria de Estado de Cultura (Secult), os espaços podem ser visitados gratuitamente às terças-feiras. De quarta a domingo é cobrada apenas uma taxa simbólica. “Eles são uma espécie de banco de memórias do estado. Quando conhecermos cada um deles, é possível contarmos a história do Pará e da Amazônia, desde o pré-contato com os colonizadores, até nossas expressões históricas e culturais mais modernas, que são refletidas em movimentos contemporâneos”, destaca a diretora Mariana Sampaio.
Dez espaços estão interligados pelo Sistema, entre eles oito museus: de Arte Sacra (MAS), do Estado do Pará (MEP), do Forte do Presépio, do Círio, da Imagem e do Som (MIS), das Onze Janelas, o Corveta Solimões e o de Gemas do Pará, no Pólo São José Liberto. Além deles, fazem parte também dois memoriais: o Amazônico da Navegação, instalado no Mangal das Garças; e do Porto de Belém, sediado no complexo da Estação das Docas. Ambos abrigados em locais gerenciados pela Pará 2000, que administra os espaços sob contrato de gestão com a Secretaria de Cultura.
Do Império à Adesão
Os mais novos que veem o Palácio Lauro Sodré, que hoje abriga o Museu do Estado do Pará (MEP), na Praça Dom Pedro II, nem imaginam que o prédio guarda memórias de momentos decisivos para o Estado. Em meio a um diversificado acervo de telas, mobiliário, acessórios de interiores e fotografias, o visitante se depara com verdadeiros testemunhos de diferentes contextos da história do Pará, desde a sua construção, no Império, passando pela Revolução dos Cabanos, até a história recente, já que deixou de ser a sede do poder público estadual apenas na década de 90.
Projetado pelo arquiteto Antonio Landi no século XVIII, o Palácio Lauro Sodré possui cinco salões nobres com mobiliário dos séculos XVIII, XIX e XX, salas temáticas em homenagem a Antonio Landi, à Cabanagem e ao primeiro Círio de Nazaré, cuja procissão saiu da capela do palácio, além de salas de exposição temporárias. O Museu do Estado também guarda importante acervo de pinacoteca, e em uma sala especial a grandiosa tela “A Conquista do Amazonas”, de Antônio Parreiras, datada de 1907. A obra, encomendada por Augusto Montenegro a Parreiras, pesa quase uma tonelada.
Segundo o escritor e museólogo Antônio Eutálio Corrêa, a obra é uma das mais importantes da pinacoteca brasileira e, até hoje, atrai pessoas de diversas partes do mundo. Ele conta que, àquela época, Augusto Montenegro conheceu o trabalho de Parreiras em uma exposição no Theatro do Paz. Lá, ele comprou “A morte de Virgínia, de 1905, que também está no acervo do museu, e encomendou outra tela. Parreiras então confeccionou “A Conquista do Amazonas” e apresentou a obra pela primeira vez no Rio de Janeiro. Somente ao chegar a Belém, a tela foi emoldurada.
Eutálio, que está como diretor em exercício do Museu do Estado, também destaca a importância do prédio em si para a história do Pará. “Era daqui que saíam as principais decisões sobre tudo que acontecia no Estado”, comenta. Além disso, o prédio também foi o cenário de inúmeras batalhas. A mais emblemática foi a do então presidente da província, Bernardo Lobo de Souza, morto em uma das escadarias. O episódio, em 1835, foi o apogeu da Cabanagem. Naquela ocasião, liderados por Antônio Vinagre os rebeldes tomaram o Palácio do Governo, onde permaneceram até 1837.
Entre as diversas histórias em torno do prédio, Eutálio não confirma uma delas: a de que haveria túneis subterrâneos ligando diversos pontos da cidade, entre eles o Museu do Estado, e que serviram como rota de fuga. A história que povoa o imaginário popular nunca foi comprovada. Em uma dessas versões se dizia que uma companhia européia teria escavado os túneis nos tempos áureos da borracha, a pedido dos governantes, para que fossem estratégicos num momento de invasão inimiga. “Tem até um historiador que fala sobre isso, mas é impossível de saber. Seriam necessárias escavações arqueológicas”, desconversa.
Riqueza Mineral
Idealizado para levar o visitante a uma viagem pela história gemológica do Pará, o Museu de Gemas, tem um acervo com mais de quatro mil peças. Desde a cerâmica arqueológica Marajoara e Tapajônica, as cinco salas guardam elementos surpreendentes e curiosos – muiraquitãs milenares, gemas encontradas em território paraense, material orgânico e verdadeiras obras de arte da natureza, como um tronco fossilizado. Na quinta sala, são encontrados elementos históricos, míticos e minerais reunidos em coleções de joias, com as características da cultura amazônica e a beleza de gemas e metais preciosos.
Ao visitar o espaço, o público se impressiona com a quantidade de material exposto, que nada mais é do que é uma amostra da variedade mineral e gemológica do estado, que ajudou a caracterizar, ao longo dos anos, a economia paraense. Muitos deles são datados desde a pré-história. Uma das peças mais antigas, uma drusa de quartzo hialino, com cerca de 2,5 toneladas, está exposta logo na entrada do espaço e teria aproximadamente 300 milhões de anos. A peça foi encontrada no vale do rio Araguaia, na fronteira entre o Pará e o Tocantins, e teria se formado durante um evento geológico chamado “Ciclo Brasiliano”.
Também no Araguaia foi encontrada a Ametista mais pura do Brasil, que divide espaço no museu com pedras preciosas de diversas partes da Pan-Amazônia. Entre elas, esmeraldas das minas de Muzo, de Coscues e El Borur, na Colômbia, e o Ametino da mina Anay, em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. Entre os destaques do museu está, ainda, o acervo milenar de muiraquitãs, uma produção artesanal indígena da região do Tapajós e Trombetas, no oeste do Pará. O objeto é considerado um amuleto ou objeto protetor nas atividades de caça e pesca.
Serviço:
O Museu Histórico do Estado do Pará está localizado na Praça D. Pedro II, na Cidade Velha. A taxa para visitação é de R$ 4, com meia-entrada para estudante, gratuidade para idosos e crianças até 7 anos. Às terças-feiras a visitação é gratuita. De terça a sexta-feira, a visitação ocorre das 10h às 18h. Sábados, domingos e feriados, das 9h às 13h. Mais informações pelo (91) 4009-9833. Os agendamentos de estudantes para visitas monitoradas devem ser feitos para o telefone: (91) 4009-8818. O serviço é gratuito.
Já o Museu de Gemas (São José Liberto) pode ser visitado de terça a sábado, das 9h às 18h30. No domingo, o espaço abre uma hora depois, às 10h, e funciona até às 18h. O ingresso custa R$ 6, também com direito à meia-entrada para estudante, gratuidade para idosos e crianças até 7 anos. Às terças, a visitação é gratuita. O Espaço São José Liberto fica localizado na Praça Amazonas, no bairro do Jurunas. Mais informações pelo (91) 3334-3526.
Fonte: Agência Pará
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