Madeiras amazônicas podem ser alternativas para produção de energia
Em artigo recente publicado na revista Floresta e Ambiente,
uma pesquisa da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), em
parceria com a Embrapa Amazônia Oriental, identificou potencial
energético de três espécies encontradas na Floresta Nacional do Tapajós,
na região Oeste do Pará: o urucu-da-mata (Bixa arborea), breu (Protium apiculatum) e acariquarana (Rinorea guianensis).
De acordo com o estudo
do professor Victor Moutinho, do Instituto de Biodiversidade e
Florestas (Ibef), e do estudante Juliano Rocha, do curso de Engenharia
Florestal, essas árvores possuem teor de lignina semelhante ao
encontrado no eucalipto, que é hoje a principal espécie usada na
produção energética no país.
A lignina é
fundamental para a fixação de carbono na madeira, o que influencia na
qualidade e no rendimento do carvão. No eucalipto, que já passou por
vários melhoramentos genéticos, o teor é de 27 a 32%. Nas árvores
amazônicas, foram encontrados de 27 a 29%.
Além disso, apresentam
boa quantidade de extrativos, que têm elevado poder calorífico, a
energia interna disponível para “queimar”.
Outro ponto favorável é
a densidade da madeira, de média a alta, da acariquarana e do breu. “A
densidade é um fator muito importante para a produção de carvão e nós
encontramos uma baixa densidade na Bixa arborea [urucu-da-mata]. E
então, como conciliar isso na produção energética? A briquetagem é uma
ótima opção”, afirma Juliano. Os briquetes são produzidos a partir da
compactação da madeira.
Até agora, os
resultados apontam a viabilidade comercial do uso da madeira para a
movelaria e dos resíduos (galhos, costaneiras, maravalhas e pó de serra
que seriam descartados) para a geração de energia a partir da biomassa.
Energia limpa
“A biomassa dá a
energia mais pura possível. Na queima de madeira, se plantarmos depois, o
carbono liberado na queima é colhido de novo pelas árvores. Não se
libera o carbono que está no solo, como é o caso do petróleo. Não se
desabrigam pessoas, criando problemas sociais com tribos indígenas e
ribeirinhos para que seja instalada uma barragem. Essas pessoas auxiliam
a plantar para que se tenha madeira que atenda a determinada
finalidade, criando emprego e geração de renda”, explica o professor.
Para isso, é
necessário que se invista na silvicultura, com o cultivo de espécies que
possam atender a esse fim. Hoje a maior parte do carvão produzido no
país ainda é obtida a partir de extração de madeira ilegal e, em
diversos casos, em condições alusivas ao trabalho escravo.
Para Juliano, “esse
artigo também veio mostrar a importância da cadeia produtiva. As
carvoarias daqui, conhecidas como caieiras, têm um aproveitamento muito
baixo. Se nós implantássemos uma cadeia produtiva, em que se comprasse
um pacote de carvão com informações sobre as características desse
produto, isso ajudaria a organizar a cadeia produtiva, capacitar e dar
melhores condições de trabalho aos trabalhadores”.
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