COMUNIDADE BOA VISTA DE ORIXIMINÁ: RECANTO DE QUILOMBOS


Uma parte da história do povo oriximinaenseque não aparece nos livros, permanece viva na Comunidade Boa Vista, região do Alto Trombetas, em Oriximiná. O lugar é recanto de remanescentes de quilombos e guarda consigo, na memória e nos costumes, a tradição de um povo que de se originou com escravos fugitivos que chegaram por essas terras em busca de liberdade. “O meu avô, no tempo da escravatura, andando por aí encontrou com minha avó e se juntaram. Nessa região existia índio, por isso eles andaram bastante até chegar neste lugar, onde se agradaram e fizeram casa. Colocaram o nome Boa Vista no terreno porque, de um lado, dava para ver até a curva do rio”, conta Oséias Bernadino Rocha dos Santos, 75 anos, agricultor aposentado.

Os moradores da comunidade também assistiram de perto e ajudaram na construção da Vila de Porto Trombetas, sede da MRN. “Eu lembro que essa área era de um italiano chamado Frederico. Tinha muita roça, jerimum... Na hora de meter as máquinas para construir Porto Trombetas, nos deram as plantações e a gente que aproveitou.Pegamos muita mandioca para fazer farinha.Depois da vila construída a gente passou a trabalhar lá: as mulheres cozinhavam, lavavam, limpavam e os homens ajudavam nas obras, na mina”, declara Esmelina dos Santos, 67 anos, agricultora.

No trabalho das ceramistas, a produção de utensílios domésticos, retrata uma tradição repassada de geração para geração. “Aprendi a trabalhar com cerâmica vendo minha avó fazer panelas de barro, pratos e outras utilidades. Essa é uma tradição que eu só valorizei depois de participar do projeto Educação Ambiental e Patrimonial da MRN onde aprendi muitas coisas e dividi o meu conhecimento com outras pessoas. Hoje, produzo utilidades domésticas e réplicas para vender”, garante a Zuleide Viana dos Santos, agricultora e artesã. Em 2012, os ceramistas da comunidade foram contemplados com a Casa do Artesão, construída pela MRN.

Os produtos artesanais como a cerâmica, esculturas de molongó (cipó), tecido de tala, danças de origem africana como lundum, preta d’angola, catissiringandor da floresta (específica da comunidade) ganham destaque em exposições e apresentações realizadas no mêsde novembro, durante a Festividade de São José Operário, padroeiro do lugar.

A comunidade Boa Vista, por meio da ARQUIMO (Associação de Remanescentes de Quilombos de Oriximiná), também deixou sua marca na história brasileira ao conquistar, em 1995, o primeiro título de terras quilombolas concedido no país. Cinco anos depois, 28 comunidades quilombolas na região do Baixo Amazonas já haviam conseguido a titulação de suas terras, destas 21 estão localizadas em Oriximiná.

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