Governo aprova plano de desenvolvimento para área quilombola Cachoeira Porteira
O
governo do Estado deu no sábado (31) mais um passo importante para
garantir a titularização da Comunidade Remanescente de Quilombo de
Cachoeira Porteira, localizada às margens do Rio Trombetas, em
Oriximiná, município do oeste paraense. Apontada pelos moradores como a
principal prioridade da comunidade durante o processo de consolidação de
um Plano de Desenvolvimento, promovido pelo Instituto de
Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará (Idesp), a
titularização da área, que totaliza mais de 226 mil hectares, deverá ser
efetivada ainda este ano. “Se tudo der certo, vamos voltar para
entregar o título no Dia da Consciência Negra (20 de Novembro)”,
anunciou a presidente do Idesp, Adelina Braglia.
O próximo passo será dado pelo governo agora em setembro, com a
apresentação de um Projeto de Lei à Assembleia Legislativa do Estado,
que garante a desafetação de parte das Flotas (Floresta Estadual) Faro e
Trombetas, onde está inserido o território quilombola, para que o
título seja efetivado. “Com o encerramento da consulta e a definição de
um plano, inclusive com a participação da Procuradoria Geral do Estado
(PGE), somadas à justificativa histórica indiscutível da permanência
deles aqui, acreditamos que esse procedimento terá, a partir de agora,
passos curtos”, afirmou Adelina Braglia.
Prestes
a ser consolidado, o título quilombola será resultado de um intenso
processo, que culminou em um Plano de Utilização e Desenvolvimento
Socioeconômico, Ambiental e Sustentável, elaborado por técnicos do Idesp
e validado pela própria comunidade, entre os dias 23 e 31 de agosto,
durante a consulta feita aos moradores. O processo, realizado nos
parâmetros da Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho
(OIT), foi o primeiro do tipo realizado no país, sendo definido pela
própria comunidade, em reunião com representantes do Idesp, da
Coordenação Estadual das Comunidades Remanescentes de Quilombos –
Malungu e do Ministério Público Federal (MPF).
Unanimidade -
Na sexta-feira (30), Roza Módulo, gerente de Comunidades Quilombolas do
Instituto de Terras do Pará (Iterpa), que acompanhou a comitiva do
governo, apresentou à comunidade a área georreferenciada pelo órgão, com
226.880 mil hectares. A demarcação foi aprovada por unanimidade pelos
moradores. Em um processo comum, este seria o penúltimo passo para a
titularização, restando apenas a homologação e sentença para a emissão
do título à comunidade “No caso de Cachoeira Porteira, por estar
inserida em uma área florestal, a desafetação das flotas precisa ser
aprovada, para que esse processo seja concretizado”, explicou Roza
Módulo.
Com
um Plano de Desenvolvimento validado, além da garantia de atividades
sustentáveis, que preservem as características da área e do seu entrono,
a comunidade passa ter um documento legal com ações prioritárias, em
bases sustentáveis, para o seu desenvolvimento. Entre as prioridades
definidas pela própria comunidade está a implantação do Ensino Médio, já
que apenas o Fundamental é ofertado na localidade, a reativação do
posto de saúde e fomento a alternativas de renda para a entressafra da
castanha do Pará – principal fonte de renda dos moradores, e ainda o
fortalecimento do ecoturismo na região.
Para
Ivanildo Carmo, presidente da Associação de Moradores de Comunidade
Remanescente de Quilombo de Cachoeira Porteira (Amocreq-CPT), o
reconhecimento do território e a definição de um plano de
desenvolvimento são fundamentais para fortalecer a identidade da
comunidade. Para ele, o apoio da atual gestão tem sido fundamental nesse
processo. “Lembro que demos entrada nesse processo há cerca de 10 anos,
com a criação da Associação. Na época, contamos como o apoio do
Programa Raízes, só que nos anos seguintes ele acabou ficando parado.
Voltamos a ter apoio nos últimos dois anos, e hoje nós vemos o governo
não só como um parceiro, mas acima de tudo como uma gestão interessada
em fazer com que as comunidades se desenvolvam de forma planejada”,
afirmou.
Etapas - Para
chegar ao Plano de Desenvolvimento, que segundo Adelina Braglia
consolida a proposta do governo de entregar o título à comunidade,
várias etapas foram percorridas desde março do ano passado, quando
representantes da comunidade estiveram em Belém, onde está situada a
sede do Idesp, para articularem com o órgão a elaboração de um estudo
técnico e científico sobre a área (levantamento histórico, cartográfico e
de informações socioeconômicas e ambientais, que comprovassem a
vivência das famílias quilombolas no local). No mês seguinte, foi a vez
dos técnicos do Idesp realizarem a primeira incursão até a comunidade.
Esse processo, que incluiu outras duas viagens, foi finalizado em
novembro de 2012.
A
consulta prévia teve início nos dias 23 e 24 de agosto, com reuniões
para detalhamento de todas as etapas relacionadas ao processo e ao Plano
de Desenvolvimento, elaborado por técnicos do Idesp a partir de
discussões com a comunidade local e de um estudo de identificação do
território. O estudo foi apresentado, em junho do ano passado, ao
Ministério Público, que acompanha o processo devido à relação de
vizinhança dos moradores da comunidade com populações indígenas, e por
ser este o órgão responsável pela defesa dos direitos das populações
tradicionais.
Nos
quatros dias seguintes, os moradores debateram entre si as propostas
apresentadas pelos técnicos, auxiliados pelo pesquisador do Departamento
de Cartografia da Universidade Federal do Amazonas, Emmanuel Farias,
escolhido pela própria comunidade. Nos dias 29 e 30 foram feitas as
reuniões de negociação, com a participação do representante da Malungu,
Aurélio Borges, e de representantes do Iterpa e da PGE. Durante todo o
processo, a comunidade teve o direito de modificar propostas
apresentadas inicialmente pelos técnicos do governo. No sábado, durante o
encerramento da programação, os moradores aprovaram o plano.
A
ocasião também marcou o término das três oficinas ofertadas pela
Fundação Curro Velho durante o período de consulta - corpo criativo,
ambientação de espaço e informática. A programação, que envolveu toda a
comunidade, contou com números de dança, resultado da oficina de corpo
criativo, e de música local. Os ornamentos, que enfeitaram o barracão no
encerramento, também foram confeccionados na oficina de ambientação de
espaço, e personalizados pelos próprios moradores. Adelina também
anunciou que os computadores utilizados durante o curso de informática
foram cedidos à Associação para continuarem na escola, onde foram
realizadas as aulas.
Prioridades
- Entre as prioridades definidas no plano está a implantação do Ensino
Médio na comunidade, que tem apenas o Fundamental, na Escola Municipal
Constantina Teodoro dos Santos. Atualmente, a escola tem 188 alunos
matriculados, entre o jardim I e o nono ano. A ideia é que a estrutura
física da escola seja aproveitada para receber o Ensino Médio. O prédio
dispõe de cinco salas de aula, salas para os professores e de leitura,
sala administrativa, depósito para materiais didáticos e esportivos,
copa, despensa e banheiros. Na escola também deverá ser construído um
espaço museu, para preservar e fortalecer a história da comunidade.
Outro
ponto prioritário definido pelos moradores é a reativação do posto de
saúde, como forma de garantir o primeiro atendimento à comunidade, já
que para receber atendimento médico os moradores precisam se deslocar
até a sede Oriximiná, viagem que leva de 4 a 5 horas de lancha. Devido à
distância, na maioria das vezes o atendimento acaba sendo feito de
forma improvisada, na própria comunidade. Além do aparelhamento completo
do posto de saúde, o plano prevê a contratação de equipe de saúde, e
garante o acompanhamento médico. Outros recursos para capacitação e
treinamento dos agentes, medicação e manutenção do posto, também estão
previstos.
As
alternativas de renda na entressafra da castanha, principal fonte de
renda das 90 famílias da comunidade, também têm destaque no plano. A
atividade agrícola contribui para a produção total de Oriximiná,
responsável por 24% da oferta estadual. O município é o terceiro maior
produtor de castanha da Região Norte. Outras atividades, como a pesca, a
agricultura e a produção de farinha são praticadas, mas em grande parte
para a própria subsistência.
Ficou
definida pela comunidade a implantação de casas de farinha
semimecanizadas e a criação de cooperativa para a produção de óleos,
sabonetes e cremes, produzidos a partir da castanha. Além de incentivar a
cadeia produtiva da castanha, a cooperativa poderá trabalhar com o
ecoturismo. O plano contempla ainda a aquisição de um barco para a
prática, a construção de uma cozinha, uma marcenaria comunitária e um
galpão para armazenamento de castanha.
“As
demandas são perfeitamente possíveis de serem executadas. Não existe na
proposta dos moradores nenhum absurdo. E, por outro lado, existe do
ponto de vista do governo – nas esferas municipal, estadual e federal –
condições de ir programando o atendimento do que está previsto”, avaliou
Adelina Braglia. Ela convocou a comunidade para trabalhar junto com o
governo a execução do plano. “Saio com a convicção de que vamos
conseguir provar que uma comunidade como essa pode, sim, se
autossustentar, ser feliz. Mas todos, governo e comunidade, terão que
trabalhar para nisso”, finalizou a presidente do Idesp.
Fonte: Agência Pará de Notícias, 01/09/2013. Texto: Amanda Engelke - Secom
Extraído de: http://espocabode.com.br
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